Quem tem medo de Paulo Freire?
Artigo de Opinião sobre os 100 anos do educador Paulo Freire.
Costumo dizer que há algo de especial em Pernambuco. Um estado relativamente pequeno, mas que deu vida a tantas personalidades ilustres nas mais diversas áreas do conhecimento e por feitos que ultrapassam as fronteiras do país e que merecem reconhecimento mundial. Entre eles podemos destacar Nelson Rodrigues, Luiz Gonzaga, Clarisse Lispector, Manuel Bandeira, Josué de Castro, Frei Caneca, Alceu Valença, Chico Science, Chacrinha, Guel Arraes, Kleber Mendonça Filho, Francisco Brennand, J. Borges e Lula da Silva. Paulo Freire é um desses nomes. E no próximo dia 19 de setembro, se vivo estivesse, ele completaria 100 anos de vida.
Paulo Freire foi um educador, filosofo que analisou as questões políticas e sociais que marcaram o Brasil. É o patrono da educação brasileira e um dos mais importantes pensadores da pedagogia, tendo influenciado gerações com sua pedagogia crítica.
Mas sendo ele um professor, por que Paulo Freire gera tanto medo e ódio a alguns setores da sociedade, em especial, aos aliados do atual presidente da república?
A resposta a esta pergunta vem da prática pedagógica utilizada por Paulo Freire ao perceber e indicar que o modelo de abordagem e pedagogia utilizado pelos educadores não gerava um pensamento crítico, pelo contrário, era opressor, podava em vez de gerar um desejo de aprender, de compreender o mundo e questioná-lo. Ele tratava criticamente de questões como a “educação bancária”, onde estudantes eram vistos como um banco (instituição financeira) e professores apenas “depositavam” conhecimento, sem buscar reconhecer as características dos estudantes e o meio onde viviam, suas experiências de vida e as possíveis trocas de saberes.
A filosofia aplicada, a partir de uma teoria em que a educação deve buscar entender o meio onde se vive e utilizar elementos do mundo real desses estudantes aproximavam o professor dos alunos. E com isso milhões de pessoas ao redor do mundo começaram a aplicar uma forma de construção pedagógica inclusiva, horizontal e eficaz. Essa modificação na prática pedagógica revolucionou, em especial, as regiões mais pobres do país.
É por isso que Paulo Freire é temido e perseguido, assim como quem segue a sua lógica pedagógica, sua educação política ao esclarecer que não há neutralidade neste universo. De uma forma simples, explico: Seu “método” é uma forma de trazer todo e qualquer cidadão aos saberes, ao aprendizado, permitindo que as pessoas questionem o mundo ao redor, tendo a crítica como elemento central na busca por conhecimento. E nada prejudica mais aqueles que querem retirar direitos da classe trabalhadora e manter privilégios políticos do que uma sociedade consciente e crítica.
O que essas pessoas, que querem apagar Paulo Freire, não perceberam, é que isso não será possível nunca. Assim como outros grandes pensadores do mundo, o que mantém Paulo Freire muito vivo são seus ensinamentos, são suas ideias. E as ideias não podem ser destruídas e nem mortas, elas circulam livres através do conhecimento compartilhado, de livros, de textos como este. A ideia força de que “conhecimento é poder” segue firme com o “Pensamento Freiriano” onde fica claro que todo ser humano é capaz de aprender, mesmo em suas condições mais críticas. E ao aprender, um mundo de oportunidades e de questionamentos se abre e permite com que a sociedade avance, livre e transparente, longe do obscurantismo que alguns tentam pregar nos dias de hoje.
Comemorar os 100 anos de Paulo Freire é comemorar o livre pensar, para não sermos escravos de elites políticas e econômicas. Enquanto existirem pessoas com medo e ódio de Paulo Freire, suas ideias serão necessárias. Viva Paulo Freire!
Leo Bulhões – Educador Militante e Presidente do PT Caruaru.
Foi Secretário Municipal de Participação Social de Caruaru, premiado com os prêmio nacional de direitos humanos e brasileiro de boas práticas no orçamento participativo.